terça-feira, 4 de junho de 2013

A decisão do CONSEPE/UFPA quanto à adoção do ENEM e a morte do ensino de Literatura no Ensino Médio

Após a decisão do CONSEPE/UFPA quanto à adoção do ENEM (apesar das inúmeras falhas, vazamentos de questões, correções estranhíssimas, minimização da Literatura, monocentrismo pedagógico, falhas de concepção e outros males) está declarada a morte do ensino de Literatura no Ensino Médio. Quem sentirá, realmente, falta desse ensino? Os alunos de Letras ou de História? Em nome de um exame monocrático, supostamente republicano e democrático, é chegada a hora de lançar a última pá de cal sobre o cadáver da Literatura. Para que se ensinar tanto conteúdo regional em Ciências Humanas? Por que abrir tanto espaço para a Cabanagem ou Max Martins? Por que um aluno de Porto Alegre que pretenda estudar em Belém precisa conhecer Marques de Carvalho? Observe-se a omissão do ENEM quanto à Literatura Portuguesa, muito distante e transatlântica para permitir partir do princípio simplório de ensinar "a partir da realidade do aluno". A Educação deveria, antes, negar a realidade (em geral opressiva, excludente, injusta) do aluno. Em nome do combate à dicotomia língua/literatura, anula-se a diferença ontológica entre ambas: uma determinada forma linguística documenta certo aspecto da língua falada, não se pondo em questão a sua dimensão estética, mas sim funcional. Assim, não se justifica pensar que o estudo de um poema faz parte da língua portuguesa em uso (os famigerados parâmetros nacionais); na verdade, a língua é um entre vários elementos mobilizados pelo artista. Eu lamento que isso ocorra sem nenhuma discussão interna, nas bases políticas que sustentam a Universidade. Uma aluna de Letras (!) declarou que a Literatura "não serve para nada". É, talvez, ela tenha razão e seja eco de um consenso medíocre do qual ouso discordar.

Texto: Prof. Dr. Sílvio de Oliveira Holanda.